Para tentar reduzir o estresse provocado pela pandemia, existem estudos, no Brasil e no exterior, que recorrem ao uso da realidade virtual.
Dia após dia, o horizonte de milhões de pessoas foi reduzido ao que se vê por janelas, muros e portões.
“A gente fica meio sem rumo, né? Teve dias de não ter vontade nem de levantar da cama. Bem desanimado”, disse o analista de benefícios Lucas Valadão
“Começa a pensar: será que não vai passar essa pandemia? Será que não vai ter um remédio, uma cura? E aí a cabeça vai pirando”, desabafou Beatriz Oliveira, doméstica.
Além da preocupação com a doença, as pessoas passaram a lidar na pandemia com pelo menos duas fontes de desgaste emocional: a falta de convívio social e o “desaparecimento” de lugares que costumávamos frequentar e que, de repente, ficaram inacessíveis. Para lidar melhor com essa nova realidade, um grupo de psicólogos e neurocientistas de vários países está convidando voluntários a participarem de uma pesquisa, que é uma imersão na realidade virtual.
Duas vezes por dia, durante uma semana, os participantes vão assistir em óculos especiais a um passeio relaxante por um jardim secreto. Depois, precisam responder a um questionário sobre as sensações e os desafios enfrentados na pandemia.
“Muitas pessoas não sabem estar consigo mesmas. Isso gera ansiedade, depressão, estresse agudo, síndromes que, às vezes, têm consequências muito importantes. A proposta não é fugir, a proposta é poder ter esse descanso para simular também a reflexão e, se possível, uma mudança, uma transformação dentro do contexto que nós estamos vivendo”, explicou a psicóloga Luciana Moretti.
A psicóloga brasileira Luciana Moretti, que vive em Madri usa simulações para tratar pacientes com medo de altura, de andar de avião, de lugares fechados. “Por exemplo, controlar a ansiedade dentro de um elevador ao invés de ter um ataque de pânico porque está em um lugar fechado. Elas se veem em ação, então elas percebem que elas realmente podem. Se eu faço dentro daquele ambiente, por que não posso fazer fora?”, contou a psicóloga.
Em São Paulo, a realidade virtual já é usada nos consultórios para tratar crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em simulações como essa, os pequenos pacientes são estimulados como em uma brincadeira e a psicóloga monitora tudo pelo computador.
“Ele vê, por exemplo, o fundo do mar. Então, tem cavalo marinho, têm vários tipos de peixinhos e aí aparece um sinalzinho que ele tem que estar olhando para esse tipo de peixinho. Ele vai tendo autoconsciência dos processos que envolvem a atenção e ele vai poder controlar melhor isso na realidade dele, por exemplo, escolar”, explicou Dirce Begel de Paula, psicóloga da RSVPSI.
A realidade virtual também virou ferramenta na reabilitação de pessoas que perderam os movimentos das pernas. A pesquisa no Instituto Internacional de Neurociências, no Rio Grande do Norte, já deu bons resultados.
“Os pacientes começam a recuperar funções parciais, a recuperar alguma sensibilidade e algumas contrações musculares voluntárias. Então, isso mostra agora que essas pesquisas podem avançar mais para você fazer novos tratamentos e reabilitação”, disse o coordenador de pesquisas do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, Edgar Morya.
Para as crianças que têm medo de tomar vacina, os neurocientistas criaram um jogo que dribla o trauma da picada.
A pesquisa mundial sobre o estresse na pandemia quer usar o isolamento social como uma solução. Os primeiros resultados devem sair em três meses.
” Com a realidade virtual, nós não precisamos mais que o paciente venha até o local. Ele pode fazer isso à distância e você pode monitorar, registrar todas as informações e alterar o tratamento dele também. Então, a realidade virtual abre uma nova perspectiva, principalmente agora nessa época da pandemia que nós estamos enfrentando”, contou Edgar.
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